Esteatose significa acúmulo de gordura nas células. Quando esse acúmulo ocorre nas células do fígado, é chamado de esteatose hepática ou fígado gorduroso.
Está presente em 25% das pessoas em todo mundo e em até 80% dos pacientes com obesidade.
Mas afinal quem é o fígado?
O fígado é um grande órgão do lado direito do corpo, localizado no quadrante superior direito do abdome. O peso normal de um fígado adulto é de cerca de 1.200 a 1.500 g.
Recebe sangue do intestino através da veia porta, que transporta a maioria dos nutrientes absorvidos após uma refeição. Assim, o fígado desempenha um papel importante como o primeiro ponto onde os nutrientes são filtrados e processados. Por exemplo, o fígado tem um papel fundamental na manipulação de açúcares, proteínas e gorduras.
Além disso, o fígado produz bile, um fluido que é armazenado na vesícula biliar. Durante uma refeição, a vesícula biliar se contrai e isso fará com que a bile seja drenada para o intestino; lá os sais biliares ajudarão a quebrar e absorver as moléculas de gordura de sua comida.
Junto com os rins, o fígado ajuda o corpo a se livrar dos produtos de degradação da renovação das estruturas corporais.
O fígado também desempenha um papel na quebra de muitos medicamentos e outros produtos químicos. E finalmente, o fígado ajuda a combater infecções filtrando organismos nocivos à medida que circulam no sangue, especialmente aqueles que entram no corpo através do intestino.
Porque o fígado fica gorduroso?
Seu fígado é um órgão chave envolvido na regulação da energia. O que seu fígado não deve fazer, no entanto, é armazenar o excesso de energia na forma de gordura. O fígado armazena apenas uma pequena quantidade de energia, ou seja, alguns carboidratos na forma de glicogênio, mas não de gordura.
Armazenar o excesso de energia como gordura é o papel do tecido adiposo do seu corpo . Em um ser humano saudável , o fígado contém poucas ou nenhuma gotícula de gordura. Se houver gotículas de gordura em mais de 5% das células do fígado, isso é considerado anormal ou patológico. Em pessoas com fígado gorduroso, mais de 5% das células hepáticas contêm essas gotículas de gordura.
O acúmulo de gordura no fígado no contexto da doença chamada Doença Hepática Gordurosa não alcoólica é na maioria dos casos devido a uma combinação de comer mais calorias do que o corpo precisa e levar um estilo de vida mais sedentário .
Fatores de risco para gordura no fígado.
- Ocorre mais comumente, mas nem sempre, em associação com sobrepeso/obesidade;
- Diabetes mellitus ou pre- diabetes;
- Níveis anormais de triglicerídeos e colesterol;
- Pressão alta (hipertensão arterial);
- Sedentarismo;
Todas essas condições são chamadas de fatores metabólicos e uma combinação delas é chamada de síndrome metabólica. A síndrome metabólica está associada a um risco aumentado de desenvolver vários outros problemas de saúde e doenças, como infarto do coração e acidente vascular cerebral (AVC).
Que problemas posso ter se eu tenho gordura no fígado?
Em muitos casos, a gordura extra nas células do fígado não parece ser prejudicial ou afetar o funcionamento do fígado. Isso é chamado de fígado gorduroso simples ou isolado, ou fígado gorduroso não alcoólico .
Quando as células do fígado contendo as gotículas de gordura ficam inflamadas e danificadas, é chamado de esteatohepatite, portanto esteatohepatite não alcoólica.
Quando seu fígado está danificado, ele tenta se reparar criando um tecido novo e saudável. Se o processo prejudicial continuar, a capacidade do fígado de criar tecido saudável suficiente e limpar o dano pode se esgotar. Como consequência, o tecido cicatricial se desenvolverá e pode se acumular. Essa cicatriz é chamada de fibrose. Alguns (mas não todos) pacientes com esteatohepatite desenvolverão fibrose ao longo do tempo , chamada fibrose progressiva, podendo desenvolver cirrose hepática.
Quando fígado está cirrótico, ele ainda pode funcionar normalmente, isso chamamos de cirrose compensada. Uma vez que o fígado não é capaz de funcionar adequadamente, ou surgem outros problemas relacionados ao fígado (por exemplo, acúmulo de líquido no abdômen (ascite), amarelecimento da pele e da parte branca dos olhos (icterícia), isso é chamado de cirrose descompensada
A Doença hepática gordurosa não alcoólica também está associada ao risco de desenvolver câncer de fígado, principalmente se você tiver cirrose, mas ainda há risco em pacientes sem cirrose e mesmo sem esteatohepatite .
Sintomas da esteatose hepática.
Seu fígado realiza suas atividades importantes em silêncio: não há muitos sensores de dor no fígado e, portanto, as doenças hepáticas geralmente não são dolorosas, o que pode ser uma razão pela qual a doença hepática crônica permanece sem diagnóstico por um longo período de tempo.
Então, pessoas com doença hepática gordurosa não alcoólica nos estágios iniciais da doença geralmente não apresentam sintomas e sua qualidade de vida não é prejudicada.
Com a progressão da doença pode aparecer fadiga e redução da capacidade física.
Você pode ter sintomas mais graves quando seu fígado fica com cicatrizes mais graves (ou seja, se você tem cirrose), como perda de peso inexplicável, amarelecimento da pele e do branco dos olhos (icterícia), coceira na pele e inchaço nas pernas ou barriga.
Como diagnosticar a doença e sua gravidade?
A maioria dos adultos não percebe nenhum sintoma nos estágios iniciais da doença hepática gordurosa não alcoólica e descobre que a tem quando está sendo testado para outra coisa, como um check-up anual ou durante testes para outras condições, como diabetes mellitus ou cálculos biliares.
Os exames de sangue do fígado geralmente são anormais, mas nem sempre. Se forem anormais, geralmente estão apenas levemente elevados, o que não deve ser considerado um sinal de doença leve. Surpreendentemente, o grau de anormalidade dos exames de sangue não prevê com segurança a gravidade da lesão hepática. Isso significa que os testes hepáticos podem ser normais ou mostrar apenas pequenas elevações e você ainda pode ter doença avançada.
A presença de esteatose pode ser avaliada com técnicas de imagem. Uma ultrassonografia do abdome é precisa para identificar a presença de esteatose se a esteatose afetar mais de 30% das células hepáticas.
Tomografia computadorizada e ressonância magnética do abdômen também podem ser usadas para diagnosticar a esteatose.
A biópsia hepática é o método que nos fornece de forma mais clara o estagio da doença- esteatose simples, esteatohepatite, fibrose/cirrose hepática. Porém, por ser um método invasivo e também com suas limitações , utilizamos técnicas alternativas para obter essa informação sem a necessidade de biópsia em muitos ( mas não em todos) os casos.
Utilizamos escores validados como o escore de fibrose FIB-4 ou NAFLD para calcular o risco de ter doença grave . Eles são cálculos que utilizam dados do paciente, do exame físico e dos exames de sangue para avaliar a gravidade da doença. Juntamente com isso, podemos usar medidas de rigidez hepática ( medidas da dureza do fígado). A maioria dos dispositivos para realizar essa medida foram baseados em ultrassonografia.
Escores e medidas de rigidez hepática são frequentemente combinados, ou um é usado como confirmação do outro (uso sequencial), para avaliar o estágio de sua doença .
Qual é o tratamento para gordura/esteatose hepática?
A primeira opção de tratamento são escolhas saudáveis de dieta e estilo de vida!!
Atualmente, não há medicamentos para tratar especificamente a doença hepática gordurosa não alcoólica, embora pesquisas estejam em andamento para desenvolve-los.
Sem medicamentos específicos para o tratamento, a perda de peso é fundamental, e isso pode ser alcançado por meio de uma combinação de mudanças na dieta e aumento dos níveis de atividade física/exercício.
Essas mudanças podem ajudar a reduzir a quantidade de gordura e inflamação no fígado. Mesmo que seu fígado esteja com cicatrizes, pode haver alguma melhora se você fizer e manter mudanças no estilo de vida, uma vez que o fígado tem a capacidade de se regenerar.
Orientações:
• A perda de peso sustentada melhora a doença hepática gordurosa não alcoólica em todo o espectro da doença. A meta é perder de 7 a 10% do peso se você estiver com sobrepeso ou obesidade . E para pacientes magros com esteatose hepática, o recomendado é uma perda de 3% do peso. A quantidade de perda de peso e a manutenção da perda são determinantes para a melhora, independentemente do tipo de dieta que for seguida.
Você pode escolher uma dieta com benefícios para a saúde que se sinta capaz de SEGUIR A LONGO PRAZO, orientada pelo seu médico e/ou nutricionista.
• Os açúcares devem ser evitados ao máximo.
•Um consumo razoável de frutas, de 1-3 frutas por dia, deve fazer parte de uma dieta equilibrada e fonte de fibras e vitaminas.
• Qualquer aumento da atividade física é útil, mesmo sem perda de peso. Para induzir mudanças significativas, mais de 150 min/semana de atividade física de intensidade moderada em 3-5 sessões, incluindo uma combinação de treinamento aeróbico (“cardio”, por exemplo, caminhada rápida, ciclismo, natação) e de resistência (“força”, por exemplo, levantamento de pesos) são recomendados.
• Tanto as mudanças na dieta quanto os níveis de atividade física/exercício precisam ser adaptados às suas necessidades, preferências e habilidades individuais para encontrar um modo de vida que você goste e possa sustentar a longo prazo.
• As diretrizes recomendam que todas as pessoas com doença hepática gordurosa não alcoólica sejam incentivadas a se abster de álcool para reduzir o risco de comorbidades e melhorar os exames de sangue do fígado e lesões do tecido hepático.
Além disso a bebida alcoólica é calórica, e contribui para a não redução de peso.
• Fumar deve ser desencorajado, pois pode acelerar a progressão da doença por si só ou sinergicamente com outros fatores de risco.
E tabagismo também é um fator de risco extremamente importante para câncer de fígado, aumentando o risco em cerca de 50% entre os fumantes atuais em comparação com os que fumaram.
E os medicamentos?
Alguns medicamentos usados para tratar outras condições também foram testados para esteatohepatite não alcoólica. A vitamina E mostrou-se promissora, mas apenas em pacientes sem cirrose e sem diabetes. A pioglitazona, que é aprovada para o tratamento de diabetes, e a liraglutida e a semaglutida , que são aprovadas para o tratamento da obesidade e do diabetes , podem ser usadas como tratamento de preferência para essas doenças quando os pacientes possuem a esteatohepatite não alcoólica associada.
Seu médico deve avaliar o seu caso para ver se há indicação para o uso desses de medicamentos.
Bibliografia: https://easl.eu/wp-content/uploads/2021/09/Non-alcoholic-fatty-liver-disease-A-patient-guideline-final.pdf
Foi bom eu ler
Que bom ter ajudado! Fico a disposição para consulta on line ou presencial!